Quero plantar o que talvez não colha
escrever o que poderá nunca ser lido
caminhar até aonde meus passos
jamais me levarão!
Quero eliminar pelo suor
e ardor
o remorso de existir incompletamente...
sobrepujar a força de meu inconformismo
através da exaustão de minha musculatura
conseguir continuar trilhando tudo
ainda que movida
pelo pensamento da coisa inútil...
Quero definir o que creio
analisando
a extensão de minha descrença
redimir-me perante mim
das doenças que me causo
do cansaço que me permito
do morrer que me antecipo
unicamente porque não sei dessentir!
Quero voltar a meu berço
já tendo
eu
o tamanho do mundo!
perceber os vislumbres do entendimento
nascidos da constatação de minha ignorância
Quero saber tudo
que não terei tempo de aprender!
dominar o verdadeiro sentido
das palavras e não palavras
enterrar
a dificuldade de comunicação...
Quero diluir-me na igualdade
e simultaneamente manter intacto
meu jeito uno de ser!
mais do que sentir-me
quero ser livre
de fato...
acenar para a felicidade
como sendo
uma concretude para os que me sucederão!
Quero
num último esforço de sobrevivência
resistir a meu inapelável julgamento
sobre mim
convivendo com o monstro
como se dama fosse
compreendendo a morte
como se viva fosse...
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