quarta-feira, 23 de março de 2011

                      
     Quero plantar o que talvez não colha
     escrever o que poderá nunca ser lido 
     caminhar até aonde meus passos 
     jamais me levarão!
     Quero eliminar pelo suor 
     e ardor 
     o remorso de existir incompletamente...
     sobrepujar a força de meu inconformismo 
     através da exaustão de minha musculatura 
     conseguir continuar trilhando tudo 
     ainda que movida 
     pelo pensamento da coisa inútil...
     Quero definir o que creio 
     analisando 
     a extensão de minha descrença 
     redimir-me perante mim 
     das doenças que me causo
     do cansaço que me permito 
     do morrer que me antecipo 
     unicamente porque não sei dessentir! 
     Quero voltar a meu berço 
     já tendo 
     eu 
     o tamanho do mundo! 
     perceber os vislumbres do entendimento 
     nascidos da constatação de minha ignorância 
     Quero saber tudo 
     que não terei tempo de aprender! 
     dominar o verdadeiro sentido 
     das palavras e não palavras 
     enterrar 
     a dificuldade de comunicação...
     Quero diluir-me na igualdade 
     e simultaneamente manter intacto 
     meu jeito uno de ser! 
     mais do que sentir-me 
     quero ser livre 
     de fato...
     acenar para a felicidade 
     como sendo 
     uma concretude para os que me sucederão! 
     Quero 
     num último esforço de sobrevivência 
     resistir a meu inapelável julgamento 
     sobre mim 
     convivendo com o monstro 
     como se dama fosse
     compreendendo a morte 
     como se viva fosse...